Ninguém os Levou Por Terem Gripe A

Duas pessoas que se despistaram na A1, em Estarreja, tiveram de regressar a casa, em Gondomar, em cima do reboque, dentro do carro. Depois de terem dito que tinham gripe A, não conseguiram ser levados de outra forma.

Um Golf que viajava na A1 no sentido Sul/Norte, com dois ocupantes, despistou-se na zona do Antuã (Estarreja), pouco antes da uma da manhã de ontem.

Ao local, acorreram agentes do Posto de Trânsito da GNR de Santa Maria da Feira, que verificaram que os duas pessoas estavam ilesas, mas com o automóvel inutilizado.

Uma ocorrência normal, não fora o facto de os sinistrados, que viajavam de Lisboa para Gondomar, onde residem, terem informado a GNR que estavam infectados com gripe A. Foi accionado o seguro, chegou reboque para o veículo acidentado e um táxi para os passageiros - mas o motorista do táxi recusou-se a levá-los.

Nessa altura, os guardas contactaram os Bombeiros Voluntários de Albergaria-a-Velha. Segundo disse ao JN o comandante da corporação, os militares da GNR ligaram para pedir informações, tendo-lhes sido respondido que deveriam telefonar para o número de emergência nacional 112. Ao fim de algum tempo, os ocupantes do Golf acidentado tomaram uma decisão. "As pessoas dispuseram-se a ir no reboque, perante aquele cenário todo", disse ao JN fonte do Comando Operacional da GNR.

Segundo apurámos, as duas pessoas viajaram de Estarreja para Gondomar - cerca de 50 quilómetros - dentro do seu carro, na caixa do camião reboque, viagem que foi acompanhada por um carro patrulha do posto de Trânsito da GNR da Feira. "As pessoas iam seguras ao seu próprio veículo. Mas ali foram tratadas como mercadoria", disse fonte do Comando da GNR, clarificando ser contra a lei transportar pessoas nas caixas abertas de camiões, a não ser em situações específicas, como no transporte de alguns trabalhadores agrícolas, para as quais tem que haver seguro.

O presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses (LBP)e a porta-voz do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) concluíram, perante os factos conhecidos, que o protocolo de transporte de doentes com gripe não foi accionado . Se fosse contactada a Linha Saúde 24, entidade a quem compete solicitar viatura médica ao INEM depois de feito um diagnóstico, é provável que o transporte das pessoas tivesse sido feito pelos bombeiros, já que a corporação tem uma ambulância do INEM.

Ligar para o 112 também não adianta, salienta o presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses. Desde Setembro que o INEM - no que aos suspeitos ou doentes de gripe A diz respeito - só transporta grávidas, bébés ou pessoas em risco de vida.

JN