quarta-feira, 28 de julho de 2010

Comando dos bombeiros demitiu-se em bloco

Está consumado. Comandante, segundo comandante e comandante adjunto demitiram-se do corpo de bombeiros de Cantanhede. Cerca de 60 bombeiros estão “indisponíveis”
A crise está instalada no corpo de bombeiros de Cantanhede. Tal como o Diário de Coimbra noticiou em primeira-mão, o comando completo, liderado pelo major Mário Vieira, pediu a demissão em bloco, e a direcção da Associação Humanitária, liderada por Idalécio Oliveira foi praticamente obrigada a aceitar as demissões.
Na sequência da tomada de posição de Mário Vieira, Marco Sousa (segundo comandante) e Nuno Carvalho (comandante adjunto), cerca de 60 elementos da corporação entregaram os capacetes em sinal de solidariedade com o comando e indisponibilizaram-se para o serviço, o que significa que – se estes elementos levaram “a peito” a ameaça –, a corporação fica reduzida a cerca de metade dos seus activos, o que é considerado uma tragédia para a segurança de pessoas e bens de todo o concelho de Cantanhede.
Também na sequência da demissão do comando, Mário Vieira escreveu uma carta dirigida aos cidadãos do concelho a explicar as razões que o levaram a exercer esse direito. Razões que, afirma, «são por demais conhecidas», mas nunca é demais repeti-las. Tal como o nosso Jornal noticiou no passado dia 16 deste mês, o agora ex-comandante insurge-se contra a «interferência no comandamento do corpo de bombeiros» onde o presidente da direcção «de forma continuada tem limitado o exercício do comando».
Na carta redigida por Mário Vieira que o DC teve acesso, são descritas várias acusações à direcção da Associação Humanitária, que acabaram por despoletar esta grave situação, numa altura em que o país está em alerta permanente devido aos riscos de incêndios.
O ex-comandante acusa a direcção «do não cumprimento do que tinha protocolado comigo» numa reunião de Agosto do ano passado, onde tinha ficado bem explícito de que tomaria o cargo de comandante, «desde que os funcionários e bombeiros ficassem na alçada do comando, a fim de evitar duplicações de ordens», mas também de, após a sua tomada de posse, a direcção ter nomeado dois coordenadores «para executarem o serviço do comandante, com as respectivas competências, sem que o comandante tivesse expressado a sua opinião sobre o assunto».
As queixas são mais que muitas e Mário Vieira também invoca «a continua violação de correspondência do comandante, como se fosse subalterno do senhor presidente», bem como a utilização dos directores «para estarem à frente de todas as áreas da competência do comandante».

Falta de palavra da direcção - Continuando a desfiar o rol de queixas, o major do Exército na reserva, que comandou os bombeiros de Cantanhede durante cerca de um ano e meio, acusa a direcção de falta de palavra em cumprir o acordado com os assalariados, «estando por pagar o subsídio nocturno», quando estes elementos continuam a dar o seu melhor, «apesar das promessas não cumpridas»; e os contínuos despedimentos e novas aquisições, «sem sequer falar com o comando acerca disso». Ou seja, não renovando contratos a bombeiros «que têm dado o seu melhor somente porque cumprem as ordens do comando».
Depois, Mário Vieira alega a «arrogância da direcção», que recusou entregar o fardamento ao comando, para que este o disponibilizasse aos seus homens e mulheres, e marcou uma reunião com o corpo activo, «a fim de entregar as fardas e os bilhetes para a Expofacic, como se estivesse a dar um donativo aos pobres», esquecendo-se – acusa Mário Vieira -, que todos os bombeiros têm direito ao seu fardamento…
«Os bombeiros não são mão-de-obra barata para este senhor engenheiro poder utilizá-los como bem quer», alega o ex-comandante, afirmando que uma associação humanitária de bombeiros voluntários «não é uma feira de vaidades». Uma associação destas, argumenta, exige trabalho, competência, tempo, «que é coisa que esta direcção não tem tido. Não trabalha, não tem tempo para os problemas dos bombeiros e tem mostrado ser incapaz de gerir esta associação nas coisas mais elementares».
Na longa carta onde Mário Vieira invoca as razões que o levaram a tomar a decisão que tomou, conclui que toda a gente tem de saber que, afinal, o problema não é dos comandos ou dos comandantes que passaram pela corporação, mas sim de «uma direcção incapaz de gerir uma casa centenária» e que toda a situação dos bombeiros de Cantanhede «é um imenso pântano, provocado pelos desvarios de poder constantes da direcção».

Ataques “infundados e lamentáveis” do comandante - O Diário de Coimbra contactou o presidente da direcção da Associação Humanitária que, face ao teor das acusações de Mário Vieira, começa por «lamentar profundamente que o senhor comandante dos Bombeiros Voluntários de Cantanhede e alguns bombeiros estejam empenhados em desenvolver uma campanha de intoxicação da opinião pública, que em seu devido tempo será totalmente esclarecida».
A direcção da associação, em conjunto com os restantes órgãos sociais, refere Idalécio Oliveira, «está a avaliar o teor das graves acusações proferidas e irá tomar uma posição pública pelos meios considerados mais adequados».
Este responsável diz ainda lamentar «que o senhor comandante tenha anunciado a sua demissão minutos antes da inauguração da Expofacic, sem que antes tenha apresentado à direcção qualquer documento a formalizar o pedido de demissão».
Direcção que considera que, nesta fase, «mais do que responder aos ataques infundados e lamentáveis do senhor comandante, o importante é resolver os problemas operacionais que ele próprio criou». A título de exemplo, relativamente ao que denomina de «problemas operacionais», Idalécio Oliveira refere o facto de Mário Vieira «não ter acautelado os meios de salvaguarda da segurança dos participantes da Expofacic, por onde passam diariamente dezenas de milhares de pessoas, conforme foi solicitado a esta associação e devidamente aceite por esta direcção».
O presidente da direcção faz notar que «estamos num período em que a prevenção e o socorro devem ser a primeira preocupação dos bombeiros voluntários», conclui Idalécio Oliveira, remetendo para mais tarde outras explicações sobre esta crise interna que a corporação atravessa.
Diário de Coimbra

2 comentários:

  1. "Mário Vieira «não ter acautelado os meios de salvaguarda da segurança dos participantes da Expofacic, por onde passam diariamente dezenas de milhares de pessoas, conforme foi solicitado a esta associação e devidamente aceite por esta direcção»."

    Pronto! Esta frase diz tudo. Devidamente aceite pela direcção?... Mas trata-se de matéria de âmbito estritamente operacional, o que é que a direcção tem de estar a chamar a si áreas que não lhe competem?...
    Como esta é uma história que começa a ser recorrente por este País fora, desde que o governo impôs,- e nós aceitámos - os novos estatutos das associações, com os presidentes das direcções à procura de protagonismo a usurpar de forma indecentemente funções que não lhes competem.
    A história repete-se: BVSetubal/2006 Vs BVCantanhede/2010 ... uma tristeza!...

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  2. Imcompetencia de um militar do exército no comando de um corpo de bombeiros..falta de formação na gestão de recursos humanos só pode..ide gosar a reforma com uma mantinha pelas costas ide..

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