quinta-feira, 8 de julho de 2010

Sem plano em caso de sismo

“Portugal corre um risco de sismo. Não sabemos quando mas sabemos que vai acontecer”, quem afirma é Carlos Sousa Oliveira, responsável pelo Consórcio Riscos. Em entrevista ao Ciência Hoje, o professor do Instituto Superior Técnico (IST), explica que há pouco mais do que planos de intervenção da Protecção Civil se vier um grande sismo.

“O problema sísmico é complicado porque não temos uma actividade sísmica constante, ela é espalhada no tempo, e levanta-nos problemas em termos de uma boa aceitação. Daí tornar-se um pouco difícil convencer as autoridades que é uma questão que tem de ser tratada com todo o cuidado”, afirma Carlos Sousa Oliveira.

Segundo o especialista, os sismos ocorrem com alguma periodicidade. “Nos Açores ocorrem com mais frequência e aí o problema está mais dominado. No Continente, como o espaçamento maior e a memória é curta, as pessoas esquecem-se desse problema. Creio que este é um dos aspectos que tem feito travar mais o assunto”, refere.

Há possibilidade de virem a ocorrer sismos em Portugal. Já ocorreram no passado, “conhecemos o de 1755, que é o exemplo mais importante de todos”. Mas ultimamente eles não têm acontecido. “Houve um que as pessoas sentiram no dia 17 de Dezembro do ano passado, mas podem vir a acontecer mais, não conseguimos é prever quando”, afirma Carlos Sousa Oliveira. Este último sismo de Dezembro teve uma magnitude 6, mas “se tivesse de 6,5 já causava alguns problemas”. O professor alerta que “nos próximos 30 ou 40 anos é possível que hajam sismos maiores e que possam causar grandes problemas”.

Definir a perigosidade

Se ocorresse já um sismo amanhã, hipoteticamente, o país não saberia como agir. “Esse é um dos problemas que nós temos, é que não existe um organismo específico para a questão, existe a Autoridade Nacional de Protecção Civil que trabalha fundamentalmente após o sismo”, declara o cientista. “O que nós precisamos é de trabalhar no antes, nas medidas preventivas. E o melhor é pensarmos que vamos iniciar o mais rápido possível essas acções de prevenção e esperar que não ocorra um sismo agora, que venha mais tarde. É muito importante ter uma atitude pró-activa e não deixar passar o tempo porque piora a situação”, sublinha.

É preciso trabalhar para definir a perigosidade sísmica. Esta “tem a ver com as falhas, com a geologia, com as ondas sísmicas” e também com “o problema dos solos” e a “a vulnerabilidade das construções”, diz Carlos Sousa Oliveira. O Consórcio Riscos “pode facilitar-nos um pouco a vida e dar-nos mais ânimo para trabalharmos nesta situação”, revela.

“Nos próximos 30 ou 40 anos é possível que hajam sismos” afirma Carlos Sousa Oliveira.
“Nos próximos 30 ou 40 anos é possível que hajam sismos” afirma Carlos Sousa Oliveira.
Este Consórcio “é o único projecto global que se pretende avançar” como medida preventiva.
De acordo com Carlos Sousa Oliveira, “existem projectos locais, mas não existe alguma autoridade que coordene ou que tente fazer a síntese de tudo isto. Era necessário existir uma autoridade e, neste momento, na falta desse organismo, é o Consórcio Riscos que pode fazer um pouco esse trabalho”.
Tem estado várias vezes na Assembleia da República a tentativa de se passar uma resolução no sentido de se fazer uma análise dos riscos sísmicos. “Até agora não foi possível passar essa resolução, estamos esperançados que haja um entendimento partidário que isso possa passar proximamente na Assembleia da República”, conta.
Actuar preventivamente

Para mitigar o problema dos riscos é necessário “conhecer bem a situação e actuar, arranjando um programa de actuação preventivo”. Segundo o professor da área de Mecânica Estrutural e Estruturas, “há muito trabalho do ponto de vista da comunicação dos riscos à população que tem sido feita de forma desorganizada. E o Consórcio Riscos pretende trabalhar nesse sentido”.

O objecto de estudo do consórcio, que envolve 50 núcleos de pesquisa universitários e várias empresas, incluem sismos, cheias, poluição, secas, fogos florestais e incêndios, deslizamento de terras e alterações climáticas.

ciênciahoje.pt

Sem comentários:

Enviar um comentário