quarta-feira, 28 de julho de 2010

Menos 80 por cento de área ardida desde Janeiro em relação a 2009

Duração média dos incêndios diminuiu com reforço da primeira intervenção. Altas temperaturas podem inverter actual tendência positiva.
A área ardida em Portugal, entre 1 de Janeiro e 15 de Julho, foi 80 por cento menor do que em igual período de 2009, segundo o mais recente relatório da Autoridade Nacional de Protecção Civil (ANPC). Porém, o número de incêndios não diminuiu na mesma proporção: foram registados menos 53 por cento do que em 2009.
A explicação para esta diferença pode estar num maior sucesso no ataque às chamas, sobretudo na primeira intervenção, o que ajudou a evitar que áreas maiores fossem atingidas, mas nada pode fazer para diminuir o número de fogos florestais.

Esta é também a opinião do presidente da Associação Nacional de Bombeiros Profissionais, Fernando Curto. "Houve um reforço dos meios para a primeira intervenção, o que evita que as chamas alastrem", explica este responsável. Se os números até 15 de Julho podem ser optimistas, a profusão de incêndios ocorridos nos últimos dias pode, porém, mudar tudo no próximo relatório de Agosto.

Anteontem, por exemplo, a ANPC registou 416 ocorrências, o que já não se via desde 2006. O ministro da Administração Interna, Rui Pereira, reconheceu ontem que este é um número elevado, para o qual estão a contribuir "condições particularmente adversas", como as elevadas temperaturas e a ausência de humidade atmosférica. Ainda assim, o governante garantiu ontem que o dispositivo de combate a incêndios tem capacidade para responder a todas as ocorrências.

Embora a tendência para já pareça positiva, o presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses ainda não dá já nota positiva ao desempenho. "Melhorámos muito no combate, mas o problema está a montante", sublinha Duarte Caldeira, que, em Maio, analisou o estado das florestas portuguesas. "Encontrei as florestas no mesmo estado que estavam em 2003", ano que bateu recordes em área ardida.

As zonas Norte e Centro, como Viana do Castelo (distrito com maior área ardida este ano), Guarda, Castelo Branco e Vila Real, são as mais problemáticas em termos de gestão da floresta. "O grande problema são os 77 por cento da área florestal total que pertencem aos privados", aponta.

O abandono rural e a inexistência de um cadastro florestal, em que deveriam estar registados os dados dos proprietários, são as principais preocupações. E o último Inverno bastante chuvoso, como já reconheceu o secretário de Estado da Protecção Civil, Vasco Franco, é à partida razão de preocupação acrescida porque alimentou o crescimento de vegetação que funciona como combustível.

Porém, o dispositivo destacado desde 1 de Julho, início da fase Charlie - a mais crítica -, está a actuar com "toda a prontidão e eficácia", assegurou ontem Rui Pereira, quando fez um ponto de situação.

O Governo destacou 10 mil efectivos, 2000 viaturas e 56 meios aéreos. A estes, juntaram-se ontem à tarde dois aviões anfíbios espanhóis, chamados a ajudar no combate a um incêndio florestal na Póvoa de Lanhoso, em Braga.

À hora de fecho desta edição, havia 16 incêndios activos, segundo informação no site da ANPC. Aveiro foi o distrito com mais incêndios (nove), e onde foram mobilizados mais meios: 481 efectivos, 131 viaturas terrestres e cinco meios aéreos. Neste distrito, as chamas lavraram em várias localidades dos concelhos de Oliveira de Azeméis e Santa Maria da Feira, e ainda em Vale de Cambra, Albergaria-a-Velha, Sever do Vouga, Águeda e Mealhada.

Já o incêndio que deflagrou ao início da tarde em Brejos de Carregueira, Alcácer do Sal, foi o que isoladamente envolveu mais bombeiros (215), apoiados por 68 viaturas e um helicóptero bombardeiro pesado.

A resposta pronta dos bombeiros e do Grupo de Intervenção de Protecção do Socorro (GIPS) da GNR tem feito a diferença, pelo menos a avaliar pela duração média dos incêndios que este ano diminuiu: 63 minutos em 2010, segundo os dados da ANPC, contra três horas registadas em 2008, segundo uma notícia da Lusa desse ano.
Público

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