Não havia mais mãos. Duas a ajudar o bebé, mais duas a amparar a mãe, e ainda mais um par agarrado ao telemóvel, pedindo auxílio ao hospital próximo. E nervos, muitos nervos, porque, afinal, era a primeira vez que Jorge, Olga e Cristina, bombeiros de Pedrouços, na Maia, viram uma mulher a dar à luz, ali, dentro da ambulância, no meio da estrada e da confusão, na Circunvalação, à porta do Hospital de S. João.
Fim de tarde cheia a de anteontem para estes três bombeiros, apanhados de surpresa pela vida que insistia pela luz com carácter de urgência. A parturiente, de 25 anos,“cheia de dores e contracções”, conta Cristina, “gritava que ele ia nascer”; e eles, os três bombeiros, aflitinhos para levar a ambulância a bom porto, que é como quem diz até ao hospital, porque “o bebé era prematuro”.
Quis as voltas do destino que fosse diferente e tiveram que parar a ambulância. “A hemorragia aumentou e a cabeça do bebé já se via”, conta Olga. Entre a premência de ajudar aquela mãe e telefonemas ao CODU a pedir que se informasse as urgências da Obstetrícia, o pequenino nasceu. “Muito pequenino mesmo”, entusiasma-se Olga.
Jorge, companheiro de Olga, na vida e nestas lides de ajudar o próximo, acrescenta que “o cordão umbilical já foi cortado por um enfermeiro da neonatologia, já dentro do recinto do Hospital de S. João, mas ainda dentro da ambulância”.
Correu bem, para a mãe, para o bebé e para estes bombeiros parteiros que “depois de já estar tudo bem” deram cabo, “entre os três, de uma maço de tabaco inteiro, tal não eram os nervos”. Da experiência ficou a promessa de conhecerem o bebé assim que ele e a mãe tiverem alta.
Acabado o parto, Jorge, Olga e Cristina tiveram preparar-se para novas emergências. E a emergência de Olga e de Jorge era o aniversário de uma das três filhas. Era preciso ir para casa.
“Liguei-lhe e disse-lhe: ‘filha, desculpa, a mãe atrasou-se porque esteve a ajudar uma senhora a ter um bebé, está bem?’ e ela respondeu-me assim: ‘e quando é que tu vens para casa dar-me de comer?”.
JN
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