segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Companhia de Sapadores Quer Ser Batalhão

Em entrevista ao Diário de Coimbra, o actual comandante dos Bombeiros Sapadores de Coimbra anunciou a transformação, já no próximo ano, desta Companhia em Batalhão. O que irá permitir o aumento de efectivos e o seu reequipamento e consequente melhoria dos serviços. Para o tenente-coronel Avelino João Carvalho Dantas, Coimbra está bem servida com o pessoal que tem.
Diário de Coimbra (DC) Coimbra pode confiar nos bombeiros que têm?
Carvalho Dantas (CD) As primeiras impressões que tenho é que Coimbra está bem servida com o pessoal. São pessoas altamente profissionais, sabem aquilo que fazem. O piquete está a funcionar ao minuto, saem de imediato. Verifiquei isso várias vezes, quer em termos de pequenos focos de incêndios urbanos, que aconteceram quando o tempo estava quente e mesmo agora nestas chamadas de socorro. Eles são extraordinários, saem rapidamente. Estão muito bem treinados. Por aí não vejo que a população de Coimbra esteja em grande risco.
DC É uma Companhia que, portanto, está operacional?
CD Está. É claro que nós continuamos a trabalhar sempre para melhor. Continuamos a dar formação contínua aos bombeiros em várias áreas. Na área do socorrismo, na área do resgate, na área do mergulho. Inclusivé ainda há pouco tempo foram fazer “workshops” e exercícios de mergulho a Setúbal. Temos pessoal que está agora a ir para a Lousã para a Escola Nacional de Bombeiros fazer formação contínua. Estamos sempre em formação. Não descuramos essa área porque sabemos que as coisas vão mudando. As técnicas todos os dias mudam e precisamos de pessoal que esteja sempre apto e acompanhe a modernização. Já agora podia dizer também, neste sentido, que está em andamento o processo de transformação da Companhia em Batalhão. O senhor presidente (da Câmara Municipal) já me garantiu isso.
DC Quer concretizar melhor?
CD A Companhia não actua exclusivamente dentro do concelho de Coimbra. Presta um serviço local mas também de âmbito regional, temos valências que apoiam outros concelhos. Vou dar dois exemplos. Em finais de Setembro, princípio de Outubro, não consigo precisar, fomos à Lousã para resgatar aquele senhor que tinha caído a um poço. Isso é uma das valências que nós temos - o resgate de grande ângulo. E ainda recentemente fomos à Figueira da Foz por causa dum derrame de óleos numas valas. Não fizemos muito trabalho mas acabámos por, com a nossa viatura de matérias perigosas, dar apoio nessa área. No mergulho, os voluntários, de uma forma geral, agora já têm mergulhadores. Como eu estava a dizer, o Batalhão vai permitir para já aumentar o número de efectivos gradualmente para que se possa prestar socorro e apoiar também a protecção civil na prevenção. E por outro lado vai permitir ir-se reequipando. Se bem que nós, em termos viaturas e equipamentos, estamos relativamente bem servidos.
Há uma proposta, em termos de lei, que o Batalhão passará a ter 199 homens. O objectivo a médio e longo prazo é ir caminhando para estes 199 homens. E isto vai ser concretizado já porque está previsto para o ano fazermos uma recruta com cerca de 30 homens. Neste momento temos 119 bombeiros, com a recruta do próximo ano serão mais 30, portanto passaríamos para os 150. A ideia é ao longo do tempo passarmos efectivamente para o Batalhão, com 199 homens. Isto sempre com aquela perspectiva de sermos uma unidade não só de âmbito local, mas também de apoio no âmbito regional. Somos constantemente solicitados para situações que extravasam o concelho e para outras situações que prestamos à população que, se formos a ver bem, não seriam funções dos bombeiros. Mas também prestamos porque as pessoas têm necessidades e os bombeiros também têm um bocado esta função social de apoiar as populações. O Batalhão também vai permitir outra coisa: a criação de um Estado-Maior de apoio à decisão do comandante. Neste momento a companhia organicamente não o tem, apesar de o ter constituído.Esta alteração, para além de beneficiar largamente a população, permitirá que o socorro e a prevenção possam ser feitos de uma forma mais eficaz porque aumenta o número de efectivos. O que permite ao comandante ter alguma flexibilidade nesta área. O comandante aqui não é a pessoa que é importante.
DC Há alguma data prevista para a passagem a Batalhão?
CD Acontecerá previsivelmente no próximo ano. É claro que não será num ano que o Batalhão ficará efectivamente a funcionar. Isso será ao longo de quatro, cinco anos, dez anos. Não sei. Será conforme as disponibilidades da própria autarquia. O gabinete jurídico está a estudar e a trabalhar sobre essa possibilidade. Como disse há uma legislação em vigor e parte dela foi revogada. A regulamentação de suporte à legislação que foi publicada é que já deveria ter saído penso que em Junho ou Julho. Mas ainda não saiu. Isto também poderá criar algumas dificuldades à própria autarquia na implementação do Batalhão.
DC Disse que estavam bem servidos de equipamento…
CD Neste momento temos três viaturas em processo de aquisição. São duas viaturas ligeiras de combate a incêndio e uma viatura de comando. E também temos em processo de aquisição uma viatura florestal de combate a incêndio, mas esse processo é um bocado mais complexo porque os valores propostos ultrapassaram aquilo que estava previsto. As três de que falei em princípio, até final do ano vamos tê-las. A outra conto tê-la durante o próximo ano. E vamos continuar a tentar modernizar o nosso parque de viaturas.
DC Há pouco falou em serviços que não seriam bem da responsabilidade dos bombeiros. Está-se a referir concretamente a quais?
CD A vários… retirar painéis, colocar holofotes em recintos desportivos (a nossa auto-escada tem essa capacidade) e às vezes temos alguma dificuldade em fazer isso porque não consigo tirar pessoal do piquete, porque está reduzido. Eu, para garantir a prestação de socorro com o pessoal que tenho não posso fazer outras acções, que também podia fazer. Não é significativo mas algumas estão a acontecer. São acções que não são propriamente missão dos bombeiros. E até porque algumas são as próprias pessoas que querem que os bombeiros se substituam a outras entidades. Agora a prestação de socorro, a abertura de portas, os elevadores, as lavagens de pavimentos, as doenças súbitas, isso está tudo garantido. É um ponto de honra que faço e tenho passado isso ao pessoal dos piquetes. A Companhia nunca pode ser acusada de não ter meios para essa prestação de socorro. Nem isso acontece neste momento.
DC Mas haverá socorros mais difíceis, que esbarram em barreiras, por exemplo na Alta ou na Baixa…
CD Há zonas na Alta com grandes dificuldades de acesso. Essa é realmente uma situação que me preocupa porque em caso de sinistro e até de doença súbita existe uma grande dificuldade em chegarmos lá. Até com uma viatura ligeira. Há locais onde só mesmo com uma maca, à mão, é que se consegue chegar, o que é problemático. Mas ainda bem que tenho pessoas que conhecem bem os locais e as situações. E também no sentido de prevenção estamos constantemente a apoiar simulacros de empresas, escolas, bancos, a própria Universidade.
A Alta é o ex-libris da cidade, não há bela sem senão. Em situações de catástrofe todos os meios são poucos. E nós também não podemos estar dimensionados para essas situações, que são de excepção. Seria o ideal, mas não é possível. Em caso de catástrofe estamos preparados para isso, depende do que acontecer. Nós na tropa temos uma expressão que é engraçada: planear para o mais provável acautelando o mais perigoso. No fundo é o que nós tentamos fazer aqui. Nós trabalhamos todos os dias para aquilo que é mais provável, mas temos sempre esta ideia de ir acautelando aquilo que é mais perigoso e pode eventualmente acontecer. As nossas equipas em algumas áreas actuam poucas vezes mas quando actuam são preciosas.
DC Para além dos meios materiais e humanos resta saber como estão ao nível de infra-estruturas...
CD Em termos de modernização de infra-estruturas temos um projecto já aprovado pelo QREN que envolve a melhoria de algumas infra-estruturas e vai decorrer previsivelmente nao ano de 2010-2011. Para já vai-nos melhorar a entrada no quartel que é um bocado arriscada. Uma entrada um bocado complicada que pode originar, às vezes, alguns acidentes. Felizmente não tem acontecido. Esse projecto vai facilitar isso. A entrada vai passar a ser feita pela parte Este do quartel, vai haver a abertura duma rua daqui da rotunda (dos Bombeiros Sapadores) até àquela rua junto ao ISEC, com passagem pelo parque de estacionamento da antiga Ecovia. Então entramos directamente ali por trás do quartel o que possibilita que as viaturas possam ir directamente para uma zona de lavagem, de descontaminação.
Vai ter algumas zonas de armazém e arrecadações, oficinas para reparação de alguns equipamentos, uma oficina de mergulho (um tanque de treino de mergulho), uma oficina de electrónica. Vai ser feita uma vivenda para treino com fogo e calor, evacuação das habitações e também para treino e alerta para os perigos domésticos. Aquilo é uma zona praticamente toda ela de treino, descontaminação e oficina. Haverá uma estação de material sanitário também com chuveiros para descontaminação de pessoal. Está também prevista uma sala de “breefings”, uma área de treino de desencarceramento, desobstrução e salvamento e uma rede de túneis para se poder treinar para esta situação da busca específica e reconhecimento em estruturas colapsadas. Também prevê a reformulação da central de comunicações e gestão de ocorrências em tempo real e georeferenciação de viaturas. Será muito mais fácil perceber como é que o fogo está a evoluir, onde é que as viaturas estão, e mesmo aqui dentro da própria cidade. Permitirá um controlo muito mais eficaz sobre as viaturas e equipamentos.
Diário de Coimbra

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