sexta-feira, 28 de maio de 2010

"O Ministério da Saúde é um dos maiores exploradores dos bombeiros"


Diário de Leiria (DL) Há precisamente um ano, e em entrevista ao Diário de Leiria, disse, e passo a citá-lo, que "os bombeiros estão a ser exterminados pelos políticos". Um ano volvido, já mudou de opinião?

Almeida Lopes (AL) Pelo contrário. Os sinais recebidos no dia-a-dia confirmam essa ideia, apesar de, actualmente, se verificar uma acalmia nas investidas contra os Bombeiros Voluntários do nosso País. A estratégia do Estado mantém-se e só não o assumem abertamente porque estamos a passar uma fase de 'vacas magras' o que é um forte revés para as ideias megalómanas da criação de uma força 'pretoriana' do Estado. Mas como está provado, ao longo dos tempos, que o Estado só funciona com 'orçamentos gordos', fazendo com milhões o que a sociedade civil faz com tostões, devido ao redundante fracasso das políticas que têm sido seguidas, cujas consequências já se verificam em vários sectores, nomeadamente no da saúde, onde se andou a apregoar o direito gratuito à saúde, mas afinal, era mentira.Também no sector bombeiros, com os recursos a serem escassos, os projectos 'desinteligentes' vão fracassar e eu acredito que a sociedade civil vai ter que se unir à volta dos seus Bombeiros Voluntários para ter a segurança necessária e o apoio desejado. Só espero que daqui a uns anos, talvez longos, infelizmente, quando a crise passar, não voltem os políticos de memória fraca a maltratar as associações e os Bombeiros Voluntários.

DL - Continua a achar que os Voluntários de Leiria estão a ser explorados pelo INEM e pela Autoridade Nacional de Protecção Civil ou a situação mudou? Se sim, de que forma?
AL - Quanto ao INEM, houve melhorias substanciais, pelo menos assumem publicamente que os bombeiros são os seus principais parceiros e passaram a ter um discurso de respeito.
Quanto à Autoridade Nacional de Protecção Civil, os seus responsáveis têm muita dificuldade em pronunciar a palavra 'bombeiros', como se verificou ainda há pouco tempo, em Leiria, naquela pretensa cerimónia de apresentação do dispositivo de combate a incêndios florestais, que mais não passou de um conjunto de equívocos e confusões de uma entidade que, relativamente ao sector bombeiros, não sabe o que anda a fazer, o que quer e para onde vai. Em cada dia que passa, aumenta a falta de respeito pelos bombeiros de Portugal, fazendo ANPC questão de, permanentemente, maltratar, ignorar e destruir um bem que não é do Estado mas, sim, da sociedade civil, que existe para colmatar lacunas da responsabilidade do Estado, que já deu provas de incapacidade para resolver, a não ser através de gordos orçamentos que não existem. O que fizeram foi espoliar os bombeiros de Portugal de alguns fundos específicos e necessários à sua manutenção, para engordar uma estrutura inútil, onde a dança de cadeiras é uma constante, chegando ao cúmulo de, por vezes, dispensarem elementos por desnecessários e, logo a seguir, irem recuperá-los e para as mesmas funções ou similares.
O modelo esgotou-se, urge assumi-lo e, rapidamente, segurar o que ainda é possível, pois a diarreia legislativa que houve para o sector trouxe graves consequências, não se percebendo o tardar das alterações já reconhecidas como necessárias.

DL - Qual é a actual situação financeira dos Voluntários de Leiria? O dinheiro chega para fazer face às despesas ou a crise também se sente no corpo de bombeiros?
AL - Vivemos com bastantes dificuldades, principalmente provocadas pelo sufoco feito pelo Estado às associações. O Ministério da Saúde é um dos maiores exploradores dos bombeiros, pois pagam mal, tarde e os serviços locais arranjam todos os estratagemas para, inclusivamente, não honrar os protocolos estabelecidos, como ainda aconteceu recentemente com o Hospital de Leiria relativamente ao transporte de doentes.
O INEM, quanto a pagamentos, já está atrasado seis meses, a Autoridade Nacional de Protecção Civil apressou-se a regulamentar tudo o que eram obrigações legais das associações, mas esqueceu-se do seu financiamento que, curiosamente, consta da mesma aberração legislativa.
O que nos vai valendo é o apoio da Câmara de Leiria e, sem dúvida, o da sociedade civil que está permanentemente a dizer presente e a afirmar, de forma inequívoca, que quer os seus Bombeiros Voluntários.

DL - Os Voluntários de Leiria estão bem servidos de meios humanos e materiais? De que é que sente mais necessidade?
AL - A nossa maior mais-valia é, seguramente, os recursos humanos, e, apesar de, por via legislativa, o voluntariado estar a ser ignorado e maltratado, vamos tendo uma adesão significativa, ainda que fruto dos vários projectos desenvolvidos com as escolas e a juventude.
Quanto a bens materiais, temos ainda várias lacunas, das quais se destaca a falta de equipamentos de protecção individual pois, neste momento, ainda não temos os suficientes para individualizar alguns, como é recomendável. A grande lacuna continua a ser uma viatura de desencarceramento, pois a que temos é insuficiente e inadequada.

DL - Quais são, neste momento, as suas maiores preocupações enquanto comandante?
AL - A manutenção económica da associação, o desenvolvimento do projecto da Companhia do Sul do concelho de Leiria, a dignificação do voluntariado e a dúvida de até quando vai durar a falta de atenção e bom senso institucional, pois já é tempo de, com serenidade, se pacificar o sector.

DL - Continua motivado para continuar à frente dos destinos dos Voluntários?
AL - Continuo motivado para a causa dos voluntários, para dar o rosto quando for necessário. Ser comandante destas mulheres e destes homens é um privilégio que lhes agradeço, pelo que vou estar atento para perceber o momento até ao qual os devo servir nesta missão, sem esquecer os órgãos sociais da Associação, nomeadamente a direcção, que é composta por um conjunto de pessoas que funcionam como equipa, que sabe o que quer, para onde vai, está atenta e em alerta permanente.

Diário de Leiria

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