Acompanhado de duas pessoas da família, António Afonso, de 73 anos, deu entrada nas Urgências do Hospital de Chaves cerca das 12.30 horas. Segundo as familiares, o idoso, residente na Gorda, em Montalegre, queixava-se de fortes dores abdominais, de estar muito inchado na barriga, de ter vómitos e diarreia. Foi triado de verde, cor associada a casos não urgentes. Já teria passado mal a noite, segundo a família.
Ficou sentando numa cadeira de rodas na ante-sala da Urgência. "Ele estava todo aninhado na cadeira, via-se mesmo que estava cheio de dores. Eu ainda fui falar com uma enfermeira, mas ela disse-me que não havia nada a fazer, que só havia dois médicos nas urgências", recorda uma familiar.
Quase três horas depois, o estado de saúde do idoso ter-se-á agravado. "Suava muito e começou a sentir falta de ar e a ter convulsões. Eu perguntei-lhe: 'o tio está bem? Ele só me disse: estou muito cansado. Então eu disse à minha mãe: chama alguém por favor que o tio vai morrer aqui!". Perante a aflição das duas mulheres, António terá sido chamado para nova triagem. Desta vez, foi-lhe dada cor laranja, associada a casos urgentes. Minutos depois, foi visto por um médico. Já na maca, terá tido diarreia e começado a sangrar pelo ânus.
De acordo com a família, o óbito acabaria por ser declarado às 17.17 horas, menos de hora e meia depois de ser visto por um médico. A causa de morte declarada aponta para "edema pulmonar consequente a demência".
A família não se conforma. "O tio António não merecia morrer assim! Não é justo estar ali aquelas horas e ninguém querer saber", disse a familiar, que, ontem, apresentou uma reclamação no Livro Amarelo da instituição.
"Eu não ganho nada com isto, mas é só para alertar as pessoas para as condições de saúde que temos nos hospitais da região", justificou a mesma pessoa da família do doente que acabou por morrer.
O JN tentou ouvir uma reacção do presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro, no qual está integrada a unidade flaviense. No entanto, Carlos Vaz nunca atendeu.
As Urgências do Hospital de Chaves têm registado um anormal congestionamento desde o Natal, por falta de clínicos gerais.
Anteontem, por exemplo, em vez dos habituais dois médicos de Medicina Interna, também só esteve um a prestar serviço.
Na segunda-feira, alguns doentes abandonaram mesmo a Urgência sem ser atendidos. E, na época do Natal, um clínico geral esteve a trabalhar mais de 60 horas seguidas, por não ter quem o substituísse. O serviço só ontem terá regressado à normalidade.
JN
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