terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Equipa do INEM no Haiti Pratica «medicina de guerra»

Alluire ia morrer se não lhe fosse amputado o pé. Aos 19 anos, a rapariga já tinha convencido seis médicos a deixarem-na à sua sorte. O sétimo não desistiu, apesar dos avisos dos colegas que já tinham dado o caso como encerrado.
Pedro Cristóvão sentou-se na cama de campanha e falou com Alluire.

Só deu por terminada a conversa quando a rapariga anunciou: «Está bem, eu aceito, mas só me fazem alguma coisa amanhã».

Para o médico, este foi um dos momentos mais marcantes do seu trabalho no Hospital da Universidade de Miami, montado no aeroporto da capital.

«Temos feito coisas que em nenhum outro lugar seriam aceitáveis, mas que nestas condições são excepcionais», descreve o clínico do INEM presente no Haiti.

Em Port-au-Prince, a equipa do INEM pratica «medicina de guerra», diz.

Mentaliza-se que, no caos do hospital sem capacidade para responder a todos, é imperativo salvar os que têm hipótese de sobreviver. Os outros morrem.

«No início a grande maioria das intervenções eram amputações. Não as consigo contabilizar mas seriam cerca de 15 por dia», recorda António Peças, o médico cirurgião da equipa.

Nos primeiros dias, os portugueses trataram de «pessoas com feridas muito graves num ambiente conspurcado», disse à Lusa Fátima Rato, a coordenadora da equipa dos oitos elementos do INEM que integra a missão portuguesa de ajuda humanitária ao país devastado pelo terramoto de 12 de Janeiro.

As operações eram feitas num hospital sem oxigénio, raio-x ou capacidade para fazer análises. Um sítio sujo e apinhado de gente.

«Era um cenário dantesco», conta Fátima Rato. Mas nunca desistiram, ao contrário de outros.

«Muitos vieram por períodos de dois ou três dias e houve até quem depois do primeiro dia não voltasse a aparecer», recorda o cirurgião António Peças.

Entretanto, o hospital mudou de instalações e os portugueses ajudaram nas mudanças.

Trabalharam das nove da manhã às nove e meia da noite com a ajuda da Força Especial de Bombeiros.

Em declarações aos jornalistas, o director do hospital considerou que «os portugueses tiveram um papel fundamental na transferência dos pacientes para o novo hospital», reconhecendo o seu empenho e qualidade profissional.

«Aqui no novo hospital, as condições são muito melhores», diz Fátima Rato, embora sublinhando que não são as ideais.

O espaço amplo para operar é, na prática, de quatro salas de operações separadas apenas por biombos.

Ali, estão penduradas fitas para agarrar as moscas e a porta de entrada é um enorme plástico.

Tudo é possível: «O bloco operatório transformou-se em segundos numa sala de partos com todos os materiais necessários. Foi incrível», disse Pedro Cristóvão, lembrando que já nasceram duas crianças naquele hospital.

Lusa / SOL

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