A família de Mário Marques Simões, cabo da GNR na reserva que exerceu funções no posto de Aveiras de Cima, Azambuja, não esconde a revolta que sente pelas circunstâncias em que morreu o seu familiar, praticamente à porta do Hospital de Tomar. A vítima esteve inanimada, caída no chão, durante largos minutos sem receber assistência médica apesar dos apelos feitos nesse sentido.
Residente em Vila Nova (Paialvo) Tomar, Mário Simões tinha 57 anos e fora submetido a uma operação ao coração há cerca de seis meses. No dia 21 de Dezembro, dirigiu-se ao Centro de Saúde de Tomar para uma consulta de rotina com a médica de família. Pelas 13h00, deslocou-se a um hipermercado da cidade para pagar, através do multibanco, a factura da água e fazer algumas compras. “Parou o carro, atravessou a via e foi cair cinco metros depois”, conta a O MIRANTE o seu irmão, Fernando Simões, visivelmente abalado com a perda.
A queda súbita acabou por ser presenciada por Hugo Hélder, Tiago Moreira e Bruno de Carvalho, três militares do Regimento de Infantaria 15 (localizado nas redondezas) que se encontravam no parque de estacionamento e que acorreram ao interior da superfície comercial para pedir a alguém que ligasse para o 112.
Foi a proprietária do bar do Intermarché (Maria José Neves) que ligou para o Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM). “A operadora fez-lhe algumas perguntas sobre os sintomas e que tipo de medicamentos tomava a vítima mas como a senhora não conhecia o meu irmão apenas indicou que sabia que tinha caído. Foi quando lhe disseram que iam tratar de enviar a ambulância”, explicou Fernando Simões.
Certo é que, de acordo com o mesmo, dez minutos mais tarde a ambulância do INEM ainda não tinha chegado – o quartel dos Bombeiros Municipais de Tomar fica a cinco minutos deste local – e foi feita nova ligação. A operadora estranhou que a ambulância não tivesse chegado e perguntou se era o Intermarché de Lisboa. Surpreendida com a pergunta do outro lado da linha, Maria José Neves realçou que era o de Tomar e que este ficava ao lado do hospital.
“Foi nesta altura que um dos militares se dirigiu a correr ao Hospital de Tomar para pedir socorro mas as enfermeiras disseram-lhe que teriam que trazer o meu irmão para ali porque não tinham autorização para sair”, contou Fernando Simões que considera que estas, na impossibilidade de saírem, deveriam ter providenciado ajuda uma vez que o seu irmão agonizava a poucos metros. Mário Marques Simões acabou por receber os primeiros socorros por paramédicos de uma ambulância que tinha acabado de prestar serviço. A ambulância dos Bombeiros Municipais de Tomar acabou por chegar ao local cerca de meia hora depois, através de um pedido feito por dois agentes da PSP directamente para o quartel da cidade.
Transportado ao hospital, já nada havia a fazer pela vida de Mário Simões, recebendo a família a notícia do seu óbito pouco tempo depois. “Disseram-nos que teve muito tempo sem ser reanimado e por isso faleceu”, refere Fernando Simões que denunciou a situação por sentir que a morte do irmão se deveu unicamente por falta de assistência por parte do INEM e também do hospital. Em contrapartida, agradece toda a ajuda manifestada pelas pessoas que lhe tentaram salvar a vida.
INEM averigua porque não foi enviada ambulância
O MIRANTE contactou o INEM para obter mais esclarecimentos sobre o assunto e perceber qual a razão porque não foi enviada qualquer ambulância ao local logo após o primeiro alerta. Da parte desta instituição responderam-nos que teriam que ouvir as gravações das chamadas para perceber o que aconteceu, remetendo a resposta para mais tarde. A mesma não chegou entretanto.
Tentámos também perceber junto do Conselho de Administração do Centro Hospitalar do Médio Tejo quais as normas e regulamento que impedem a saída dos seus profissionais de saúde, mesmo em situações particulares de emergência, como foi o caso desta. A Direcção Clínica do Centro Hospitalar refere que “a responsabilidade de socorro, a emergência na via pública é do INEM” e que “o transporte de doentes não é autorizado em carros particulares, apenas nos casos em que o doente se encontre a cargo de um hospital ou de qualquer outra entidade do Serviço Nacional de Saúde”.
Morte no centro de saúde
O caso da morte de Mário Simões, ocorrida a poucos metros da porta do Hospital de Tomar evoca uma situação idêntica que se passou no dia 5 de Julho de 2005, relatada por O MIRANTE. Mariano de Jesus, 60 anos, encontrava-se na sala de espera do Centro de Saúde de Tomar quando sofreu um enfarte do miocárdio. A ambulância demorou mais de meia hora a chegar ao local. O motivo foi uma falha nas comunicações entre o Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU) e os Bombeiros Municipais de Tomar. Na altura, e de acordo com o responsável do INEM, o operador enviou a ambulância para a Asseiceira, aldeia situada a sete quilómetros da cidade, devido a uma “deformação do programa informático” porque quem fez a chamada não indicou o nome da freguesia. A família da vítima fez uma exposição ao ministro da Saúde e ao responsável máximo do INEM. Com este procedimento, pretendiam alertar as entidades competentes para este tipo de situações, que consideram cada vez mais recorrentes. ncia não foi enviada ao local.
O Mirante
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