sexta-feira, 4 de junho de 2010

Judiciária está a vigiar 53 incendiários

Indivíduos com historial criminoso ligado aos incêndios estão permanentemente sob controlo dos polícias.

De vez em quando, José (nome fictício) recebe um banal telefonema de um inspector da Polícia Judiciária (PJ) a perguntar se está tudo bem. Por vezes, em vez do telefonema, recebe mesmo uma visita--surpresa para uma banal troca de conversas. José é o autor confesso de um incêndio que deflagrou na zona da Guarda, em 2009, e está entre os 53 indivíduos com antecedentes criminais incendiários que já começaram a ser acompanhados a par e passo por uma equipa especial daquela força de investigação criminal.

Não se trata de vigilâncias, até porque isso seria inconstitucional. Trata-se antes de saber se os indivíduos referidos com um historial de prisão ou detenção estão integrados socialmente. "Acompanhamos essa integração", disse fonte policial ao DN, frisando que uma das características dos incendiários é a reincidência no crime.

O perfil dos incendiários está traçado pela PJ. A maioria, além de reincidente, tem também problemas de integração social e de alcoolismo. Por isso, a partir de 2003, ano negro dos incêndios, a Judiciária organizou-se e elaborou o Plano Nacional para a Prevenção e Investigação do Crime de Incêndio Florestal. Para o efeito, criou o Gabinete Permanente de Acompanhamento e Apoio à Prevenção e Investigação dos Incêndios Florestais que funciona entre 1 de Julho e 30 de Setembro. Neste período de tempo, as várias equipas, nas diferentes directorias da PJ ligadas ao gabinete, contactam as pessoas referenciadas e visitam-nas, mantendo-as debaixo de olho para evitar as reincidências.

Conforme foi explicado ao DN, este acompanhamento é feito com o apoio da GNR, dos bombeiros de cada concelho e do gabinete técnico florestal de cada município. Para os indivíduos de maior risco, acabados de sair da prisão, a PJ conta com o apoio da Direcção-Geral dos Serviços Prisionais (DGSP). Esta entidade informa sobre os reclusos que terminaram de cumprir as suas penas ou que se encontram em saída precária. Há também a recolha de informação especulativa junto de terceiros. Por exemplo, é sempre bom fazer um telefonema para o dono do café da aldeia que conhece a pessoa de risco para lhe perguntar se se apercebeu de algo anormal.

Este plano foi esta semana apresentado na Escola da Polícia Judiciária no âmbito das semanas temáticas de formação, que todos os anos a entidade promove.

"A prevenção está também na primeira linha de combate ao crime", disse ao DN José Braz, responsável pela Directoria de Lisboa e Vale do Tejo, confirmando o trabalho que está a ser realizado na sua área de influência, que abrange Lisboa, Évora, Portalegre e Santarém, e que começou no dia 17 de Maio. "Ao nível da Directoria de Lisboa, o número de inquéritos por crime de incêndio tem vindo a baixar desde 2003", garantiu.

O DN, na terça-feira, solicitou ao director nacional da PJ alguns dados estatísticos sobre o número de inquéritos abertos em todo o País nos últimos anos, mas até ontem não obteve resposta.

No entanto, o DN sabe que o acompanhamento personalizado dos mais potenciais incendiários tem contribuído para que sejam evitados muitos fogos. Trata-se, geralmente, de pessoas muito simples, sem instrução académica e que actuam, em muitos casos, para se vingarem de alguém. Os incendiários são, maioritariamente, homens, agem sozinhos e sem motivação económica.

DN

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