Jaime Soares, presidente da Câmara de Vila Nova de Poiares, soube ontem da notícia através do Diário de Coimbra e sublinhou, inclusive, desconhecer por completo que a direcção dos Bombeiros de Poiares, corporação da qual é comandante, tivesse manifestado «essa vontade à Liga, considerando a Câmara uma entidade merecedora de qualquer agradecimento».
Mas, “surpresas à parte”, o autarca afirma que a atribuição desta menção honrosa é «sempre uma notícia agradável». Todavia, não deixa de dar conta que espera que esta decisão, tomada pelo Júri Nacional do Prémio, que reuniu na passada terça-feira, na sede da Liga, em Lisboa, seja «exclusivamente fundamentada no rigor dos regulamentos e nunca em qualquer outra situação». Reconhecendo o mais do que público envolvimento, que desde há largos anos assume no que aos bombeiros voluntários diz respeito, e uma vez que «sou uma pessoa ligada ao sector», Jaime Soares deixa claro, desde já que, se se aperceber que tenha «havido qualquer movimentação ou influência nesse sentido», rejeita qualquer distinção. E assumiu, ontem ao Diário de Coimbra, que não vai receber o prémio. «Será a vice-presidente da Câmara de Vila Nova de Poiares, dr.ª Deolinda Gonçalves que vai receber a menção honrosa», afirma, adiantando que «poderei estar na cerimónia, e certamente irei lá estar, mas como bombeiro, não como presidente da Câmara Municipal».
Verdade é que esta distinção reconhece eventualmente um dos poucos autarcas do país que acumula, há largos anos, as funções e presidente da autarquia e também o comando da corporação, cargo ao qual soma, entre outros, também a responsabilidade da Federação de Coimbra dos Bombeiros Voluntários. Mais que isso, Jaime Soares tem-se afirmado como uma voz crítica no que aos bombeiros diz respeito e inclusive, antes do presidente da Liga, Duarte Caldeira, ter anunciado a seu recandidatura ao cargo, equacionou mesmo a possibilidade de avançar para a liderança da Liga Portuguesa dos Bombeiros Portugueses.
“Último Moicano”
Entre os Bombeiros e a Câmara, afirma quem o conhece que Jaime Soares vive dividido “entre dois amores” e o voluntariado é, em seu entender, um «valor que tem de ser preservado». E por isso afirma-se como uma voz crítica relativamente a um conjunto de atitudes e cedências que têm vindo a ser feitas e que, em seu entender, constituem uma «ameaça ao futuro do voluntariado», uma «mais-valia dos bombeiros portugueses» que, sendo colocada em causa representa, para Jaime Soares, a «perda de um dos maiores valores da sociedade portuguesa». «O voluntariado não está esgotado», garante, considerando que «poderei ser o último Moicano, mas vou continuar, onde e como puder, a fazer ouvir a minha voz em sua defesa». Aliás, uma das suas últimas “guerras” prendeu-se com o acordo colectivo de trabalho que a Liga fez com a Associação Nacional de Bombeiros Profissionais e com o sindicato, organismos que, afirma, «dão beijos de crocodilo», pois o seu objectivo é «destruir os bombeiros voluntários e a Liga tem responsabilidade nisso».
Críticas à parte, Jaime Soares reconhece que a Câmara de Vila Nova de Poiares «tem feito tudo o que nos é possível para potenciar o voluntariado», o que se justifica pela «importância que tem na defesa da vida das populações e dos seus bens». E deixa um alerta em relação a outras autarquias: «devem estar atentas e entender a importância acrescida dos bombeiros voluntários».
Foram quatro as autarquias candidatas
Vila Nova de Poiares, Odemira, Figueiró dos Vinhos e Ponte de Lima foram as quatro autarquias candidatas ao prémio instituído pela Liga dos Bombeiros Portugueses. A informação foi confirmada ontem ao Diário de Coimbra pelo presidente da Liga, Duarte Caldeira. Aquele responsável esclarece que as autarquias constituem um dos itens do Prémio Bombeiro de Mérito, que a Liga instituiu há 10 anos. As propostas são dirigidas à Liga pelas associações e corpos de bombeiros suas filiadas e o objectivo do prémio é «distinguir as câmaras municipais que atribuem às associações e corpos de bombeiros da sua área de jurisdição apoio continuado no tempo», explica Duarte Caldeira, esclarecendo que esse apoio pode ser de carácter económico e financeiro, mas também através de outras benesses que as autarquias podem instituir, por exemplo relativamente a taxas e licenças, beneficiando as associações de bombeiros e seus associados.
Duarte Caldeira, que também fez parte do júri, disse ao Diário de Coimbra que as autarquias de Poiares e Odemira «estavam muito iguais», nos diferentes parâmetros de avaliação, especialmente no que concerne ao apoio prolongado no tempo, ao longo de muitos anos». «Estas duas câmaras destacaram-se pelo apoio continuado no tempo ao longo de muitos anos», refere o presidente da Liga, justificando a atribuição “ae aequo” da menção honrosa aos dois municípios.
A Liga vai ainda distinguir o presidente da direcção dos Bombeiros da Aguda, o comandante dos Voluntários Madeirenses, o Sistema Integrado Multimunicipal de Águas Residuais da Península de Setúbal (personalidade empresarial ou empresa) e Mariana Silva Cruz (personalidade da sociedade portuguesa).
Diário de Coimbra
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