O acidente verificou-se no final do dia de sábado, quanto a equipa regressava a Penela, depois de mais uma acção de formação, nas instalações da antiga fábrica de cerâmica Estaco, em Coimbra. Sábado os testes envolveram a equipa de BREC – Busca e Resgate de Estruturas Colapsadas – e a equipa SGA – Salvamento de Grande Ângulo, num teste de resistência, que as obrigou a um trabalho ininterrupto para proceder ao resgate de quatro feridos e de uma vítima mortal.
No regresso a casa o acidente aconteceu. Foi no IC3, antes da localidade de Alfafar. A bola de engate do veículo que rebocava o atrelado partiu-se, originando o despiste e posterior capotamento. «Ainda estamos a tentar perceber o que aconteceu», afirma António Lima, que não encontra uma justificação lógica para o incidente. Com o atrelado à deriva na estrada, seguiram-se diversos capotamentos, uma situação facilitada pelo facto de a maioria do material ser «bastante leve», refere o comandante, sublinhando que se trata de equipamentos e peças construídos em fibra, alumínio ou contraplacado marítimo. Com os sucessivos tombos, o equipamento que estava solto ficou irremediavelmente perdido, e também ficou danificado material que sofreu o impacto do embate. “Salvou-se” aquele que estava devidamente acondicionado nos respectivos “cacifos”.
As contas ainda não estão feitas, mas António Lima aponta, desde já, para «mais de um ano de trabalho e empenho perdido», por parte da corporação e um investimento em equipamento «à volta dos cinco mil euros».
Ainda não refeito do choque, o segundo comandante dos Voluntários de Penela “não baixa os braços” e garante que a formação das duas equipas vai continuar e promete que a deslocação prevista para o próximo fim-de-semana, a Albergaria-a-Velha, se vai efectuar. O atrelado BREC está fora de causa, uma vez que a destruição é notória, mas o equipamento aproveitável vai ser transportado «onde e como for possível», assegura.
Dificuldades difíceis de superar
Equacionada está a ser a possibilidade de utilizar «uma carrinha de um bombeiro», refere António Lima, esclarecendo as dificuldades relativamente a viaturas, uma vez que «só temos ambulâncias e carros de incêndios», ou seja, viaturas que não estão preparadas para receber equipamento como este. E dá o exemplo dos Sapadores de Coimbra que, não tendo uma viatura específica para o equipamento de resgate e salvamento, têm este material distribuído por vários veículos, que possuem “cofres” onde pode ser acondicionado.
Solução “a prazo” poderá passar pela viatura que os bombeiros começaram a recuperar com o objectivo de garantir o reboque do Atrelado BREC, porque «temos as equipas preparadas e se houver alguma coisa têm de dar resposta», afirma António Lima, referindo-se às equipas especializadas em busca e resgate de estruturas colapsadas e em salvamento em grande ângulo. Esta viatura, «a primeira dos Bombeiros de Penela» e a «única viatura urbana» da corporação, entrou ao serviço no início dos anos 80, acabou por ser “abandonada” em 2003/4, refere o segundo comandante, recordando uma reparação com custos muitos elevados que teria de ser efectuada em Itália. A corporação chegou a equacionar a sua venda, mas a afectividades acabou por anular o negócio. Recentemente, começou a ser olhada com “outros olhos”, uma vez que os bombeiros viram ali a solução ideal para o reboque do atrelado. As alterações começaram a ser feitas, no sentido de retirar as bombas e tanque próprios de uma viatura de incêndio, ficando apenas a estrutura. A pintura foi terminada no final da semana passada.
Difícil será, certamente, adquirir um atrelado idêntico. «Foi um achado», reconhece António Lima, recordando os cerca de 700 euros que a viatura custou e que depois foi alvo de todo um processo de adaptação, de forma a ficar em conformidade com os requisitos legais, um tarefa que os bombeiros, orientados pelo «formador e amigo Alexandre Santos, da Figueira da Foz», garantiram. O segundo comandante confessa que já fez uma pesquisa na internet e o mais parecido e barato que encontrou «foi na Ucrânia e custa 750 euros». Um investimento que, pelo menos para já, parece estar “fora de hipótese”.
Voluntários começam a juntar dinheiro
E porque “os lamentos não levam a lado nenhum”, os bombeiros da corporação de Penela têm andado à procura de respostas e das conversas mantidas ao longo da manhã de ontem saiu a certeza que não vão ficar de braços cruzados. Ou seja, de acordo com António Lima, ao princípio da tarde já havia a certeza que cerca de três dezenas de elementos estavam «disponíveis para dar algum dinheiro», no sentido de, peça a peça, voltar a reunir o equipamento destruído. Um gesto que sensibiliza profundamente António Lima, que reconhece o espírito único «daquela rapaziada», que «continua ali, a olhar para o atrelado, a ver se conseguem aproveitar alguma coisa».
Este gesto de boa-vontade é o primeiro passo, mas o segundo comandante reconhece que são passos «difíceis», uma vez que ele próprio se sente «pouco à vontade em pedir apoio à direcção», uma vez que em causa está um equipamento de «serviço público», que não pode ser rentabilizado, ao contrário, por exemplo, do que acontece com uma ambulância.
Diário de Coimbra
Sem comentários:
Enviar um comentário