domingo, 25 de abril de 2010

25 de Abril: 36 anos depois, mais ‘ricos’ e mais instruídos

Nos anos após a revolução, Portugal viveu com inflação perto de 30% e taxas de juro de 20%. A qualidade de vida melhorou, mas o país continua abaixo da média dos parceiros europeus.
Em 1974 apenas um terço das casas em Portugal tinha duche. Com esgotos só 60%. Uma viagem entre Lisboa e Trás-os-Montes levava um dia inteiro e 26% da população era analfabeta.
Mais de três décadas depois, a qualidade de vida melhorou e os portugueses ficaram mais ‘ricos’ e instruídos. Mas há um perigo que volta a ensombrar a economia: a bancarrota.

No período pós-25 de Abril, a entrada em incumprimento foi um cenário plausível. A revolução levou muitos portugueses a quererem trocar escudos por outras moedas para tirarem o dinheiro do país. Na altura, a escassez de reservas cambiais foi a principal ameaça para a economia.

«Havia incerteza. As pessoas não tinham confiança», recorda Jacinto Nunes, o primeiro governador do Banco de Portugal (BdP) nomeado depois do 25 de Abril (ver entrevista ao lado).

Hoje, a possibilidade de Portugal não conseguir honrar os compromissos financeiros está sobretudo relacionada com o descontrolo das finanças públicas. Mas o antigo governador recusa a ideia de que o país possa vir a ‘falir’. «Não sou um optimista declarado, mas não sou pessimista a esse ponto».

Depois do 25 de Abril, os salários evoluíram de forma livre. A procura disparou, mas a oferta não respondeu de imediato. A solução foi recorrer às importações, o que agravou o défice externo. A inflação disparou, atingindo níveis próximos de 30% (ver infografia).

Dias agitados

Nos anos que se seguiram à revolução, o BdP foi forçado a subir a taxa de juro para evitar a fuga de capitais – chegou a 20% em 1978. Foram períodos conturbados, com grande agitação social e com o Estado a assumir mais preponderância na economia, nacionalizando bancos e parte da indústria.

«Pela primeira vez na história económica recente, o Estado foi mais travão de crescimento do que motor», considera o historiador económico Pedro Lains. Segundo o investigador, até à II Guerra Mundial o Estado garantia o «formato institucional», a segurança, as transacções e os mercados. Depois, impulsionou os grandes investimentos e a industrialização. E, desde 1974, teve como «principal papel o fornecimento dos serviços que melhoraram a qualidade de vida, incluindo a saúde, a educação e a segurança social». É o princípio da «nova economia dos serviços».

Nestes 30 anos houve melhorias. «Será raro o indicador de qualidade de vida que não tenha melhorado, da mortalidade infantil à esperança de vida, passando pela literacia e pela formação universitária, os transportes, as cidades, a segurança na velhice». Contudo, o facto de Portugal ainda estar longe da média europeia em muitos indicadores causa «insatisfação» na população.

O ritmo de crescimento nos anos 70 é inferior ao da década anterior, marcada pela abertura ao exterior com a entrada de Portugal na EFTA (Zona de comércio Livre). A entrada na UE, em 1986, deu um novo fôlego às trocas comerciais e a economia do país deu outro salto.

Actualmente, Portugal está perante uma nova encruzilhada. Depois de uma década de crescimento quase anémico, a necessária redução da despesa do Estado implicará sacrifícios. «O Estado Social universal não pode continuar, porque senão qualquer dia não temos estado social nenhum, nem para os mais carenciados».

Sol

1 comentário:

  1. Concordo em muito-pouco, com o que está descrito; isto porque o crescimento/desenvolvimento são relativos (no caso, a outros países. De maneira nenhuma o processo político, seja onde for, não é estático; é, isso sim, dinâmico e não "corre" à mesma velocidade! Foi, talvez por isso, que um concidão nosso,que vai, frequentemente, a Espanha um dioa me disse: antes de 1974, estavamos atrazados em relação à Espanha, seis ou sete anos; agora estamos sessenta.

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