quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Dívidas do Estado não deixam bombeiros comprar fardas

Subsídios por pagar respeitantes a imposto de jogo afectam colectividades.
Os Bombeiros Voluntários da Póvoa de Varzim andam a contar tostões e nem dinheiro para fardas têm. Isto porque o Estado não paga os 110 mil euros que lhes deve. Parte da verba é de subsídios resultantes da concessão de jogo. E há mais instituições em dificuldades.

"A situação começa a ser complicada: estas verbas são muito importantes para nós, porque têm um carácter regular. No ano passado chegaram com três meses de atraso. Este ano, tomamos precauções para evitar dificuldades graves. Mas os organismos do Estado com os quais trabalhamos estão muito atrasados a pagar - actualmente, devem-nos 110 mil euros - e o dinheiro esgota-se. Cria-nos um problema de tesouraria", explicou, ao JN, Rui Coelho, presidente dos Bombeiros Voluntários da Póvoa de Varzim .

Com um orçamento anual de mais de um milhão de euros, gastos mensais na ordem dos 100 mil euros, 80 bombeiros voluntários, 44 funcionários e 15 viaturas em serviço diário só na área da saúde, a vida no quartel dos bombeiros poveiros não está fácil.

A situação, explica Rui Coelho, só não é pior, porque "se foram acautelando dias maus": "Como é uma quantia considerável, costumamos destiná-la a algum equipamento mais caro que nos faça falta ou a uma viatura. Este ano, seria para equipamentos de protecção individual de combate a incêndios. É uma lacuna grave", afirmou o presidente da corporação.

Com essas verbas, os bombeiros esperavam adquirir mais 30 fatos para juntar aos 30 que já tem, aproximando-se da meta de um fato por homem, isto no concelho com "mais incêndios urbanos no distrito do Porto". Resta aos voluntários, remata Rui Coelho, "ir vivendo um dia atrás do outro".

Meio milhão de euros

Segundo o presidente da Câmara da Póvoa, Macedo Vieira, o problema estende-se a outras 23 instituições que, anualmente, recebem do Turismo de Portugal cerca de meio milhão de euros em subsídios resultantes dos impostos cobrados no âmbito da concessão da zona de jogo na Póvoa.

Do montante total, que varia em função da tributação paga, o Varzim Sport Clube recebeu, em 2009, cerca de 100 mil euros. Actualmente, o clube, a braços com sérias dificuldades, tem quase quatro meses de salários em atraso aos jogadores. Segue-se na lista, o Clube Desportivo da Póvoa, os Bombeiros e o Movimento de Apoio de Pais e Amigos ao Diminuído Intelectual (com mais de 46 mil euros cada). Entre as instituições apoiadas estão ainda a Cruz Vermelha, a Banda Musical, outros clubes desportivos e instituições de solidariedade.

Autarca exige explicações

Macedo Vieira garante que já pediu explicações à Inspecção-geral de Jogos (sob a tutela do Turismo de Portugal). "No ano passado, o dinheiro chegou em Fevereiro, com três meses de atraso. Este ano, já estamos quase no fim do mês. São valores avultados que estão a deixar as instituições, bombeiros e clubes em dificuldades", considerou Macedo Vieira, referindo que essas verbas devia ter sido entregues em Novembro.

O presidente da Câmara da Póvoa queixa-se ainda de "dificuldades" nas transferências da Administração Central para as autarquias: "Ainda não foram transferidas as verbas das Finanças relativas aos impostos locais. Isto começa a criar alguma perturbação na tesouraria das câmaras municipais. Causa-nos problemas para pagar os subsídios às colectividades [que, por causa do atraso nas verbas do jogo, pedem apoios urgentes], mas também os salários", explicou o autarca.

JN

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