“É nossa preocupação permanente tudo tentarmos fazer para conseguir estar à altura do que a população espera de nós.
”No mês em que assinala o Dia Internacional da Protecção Civil, quando se regista número considerável de desastres naturais onde o apoio dos soldados da paz se mostra decisivo, e quando, ainda, estão abertas inscrições para uma escola de estagiários para admissão de novos bombeiros, falámos com António Lousada, comandante do Corpo Activo dos Bombeiros Voluntários da Mealhada, que, entre outros temas, nos falou da exigência que recentes medidas legislativas impuseram, em termos de disponibilidade e de formação, aos voluntários que servem nas corporações de bombeiros.
Que objectivos se pretendem concretizar com a abertura de uma escola de estagiários nesta altura? A corporação tem falta de efectivo? Ou de efectivo mais qualificado?
Os objectivos da abertura de mais uma escola prendem-se, principalmente, com o aumento do efectivo, uma vez que há elementos que saíram por terem passado ao Quadro de Honra ou ao Quadro de Reserva, pois não têm disponibilidade para continuar a desempenhar as missões em função das exigências impostas. No que respeita à qualificação do corpo activo esta é feita semanalmente com as instruções contínuas conforme um plano de instrução anual, além das formações que vão sendo realizadas ao longo do ano de acordo com as necessidades que apresentámos à Escola Nacional de Bombeiros, através do coordenador distrital.
Procura para essa escola adultos com sentido de missão, de responsabilidade, de altruísmo e com disponibilidade, assim o diz o cartaz. Não há requisitos de carácter físico ou de condições de saúde? Não há exigências de formação académica ou profissional?
Claro que há requisitos de vária ordem. Os candidatos terão que possuir a escolaridade mínima obrigatória, terão que ter robustez física e psíquica devidamente comprovada por um médico. Terão também que ter as vacinas em dia, do qual terão que fazer prova documental através do respectivo boletim. Terão ainda que ter idade compreendida entre os 18 e os 35 anos.
Que aliciantes poderão, de algum modo, incentivar os jovens adultos a ingressar, como voluntários, num corpo de bombeiros?
Não são muitos os aliciantes que actualmente possam contribuir para o ingresso num corpo de bombeiros, pois com as alternativas que os jovens hoje têm para ocupar o seu tempo, é preciso ter espírito de missão, ser altruísta e gostar de ajudar os outros de um modo desinteressado.No entanto, existe o Estatuto Social do Bombeiro que tem alguns incentivos, tais como a isenção de pagamento das taxas moderadoras do Serviço Nacional de Saúde, o aumento de 25 por cento do tempo de serviço dos bombeiros que são contribuintes abrangidos pela Segurança Social e pelos que são subscritores da Caixa Geral de Aposentações.Existe ainda a isenção de pagamento de propinas e taxas de inscrição na frequência do ensino oficial para os bombeiros no quadro activo e para os estagiários com pelo menos um ano de serviço na situação de actividade no quadro.
O que é exigido a uma pessoa que se disponha a ser bombeiro na Mealhada?
Em primeiro lugar é exigido que goste de ajudar e servir, sem estar à espera de receber alguma coisa em troca. É também importante que saiba o que é e pratique a solidariedade, o espírito de sacrifício e que claramente seja uma pessoa de bem.Também lhe é exigido muita disponibilidade para o cumprimento das múltiplas missões que fazemos, passando quase sempre a família e os amigos para segundo plano.É importante que uma pessoa que se disponha a ser bombeiro saiba que só é voluntário para entrar para esta casa, pois a partir desse momento e apesar de ser bombeiro voluntário, tem obrigações e claro que também tem os seus direitos devidamente contemplados na legislação em vigor.
Número considerável de bombeiros da corporação encontra-se a frequentar cursos de promoção. Segundo temos conhecimento são cursos que decorrem de alterações legislativas sobre o estatuto do Bombeiro. Qual é o papel da formação na gestão do efectivo mealhadense?
A formação que alguns bombeiros estão a frequentar para efeitos de promoção é claramente uma mais valia para os bombeiros em particular, pois melhora e aumenta os seus conhecimentos em determinadas áreas, assim como para o corpo de bombeiros, pois permite a este ficar mais bem dotado no que respeita à capacidade de resposta em determinadas ocorrências a que seja chamado a intervir. As alterações legislativas vieram, em minha opinião, aumentar e bem, o grau de exigência na formação para efeitos de promoção.
As referidas alterações legislativas aumentaram o grau de exigência relativamente à formação dos bombeiros, mas também em relação à disponibilidade. É assim? De que forma?
È efectivamente verdade que o grau de exigência, quer na disponibilidade dos bombeiros quer na formação, aumentou. Se em relação à obrigatoriedade do cumprimento de um número mínimo de horas de instrução e formação ao longo do ano (70 horas), eu estou completamente de acordo, pois se um bombeiro não fizer instrução ou formação dificilmente conseguirá desempenhar as missões a que é chamado com a eficiência que deve ter.Em relação ao número de horas mínimas que tem que fazer (205 horas) eu já não concordo, pois apesar de terem que ter disponibilidade, estamos a falar de bombeiros voluntários que sempre que podem, acorrem a todo o tipo de chamadas. Muitos dos bombeiros têm empregos que não permitem uma assiduidade permanente, mas que pelas suas qualificações profissionais são imprescindíveis para o cumprimento de muitas missões. Dou o exemplo de bombeiros possuidores de carta de condução de veículos pesados.
É possível que diminua, significativamente, na decorrência dessas alterações, o número de voluntários nas corporações de bombeiros – na Mealhada e não só?
Penso que se não houver alguma flexibilidade no cumprimento da legislação, em que cada comandante do corpo de bombeiros possa ter alguma autonomia para poder justificar ou não o cumprimento do número de horas exigido, é possível que o número de voluntários diminua podendo até pôr em causa, no futuro, o cumprimento de algumas missões.
Entendo, por isso, que cada caso é um caso e que deveria, por isso, ser alvo de análise específica em cada corpo de bombeiros por parte de quem comanda. Esta é uma análise estritamente pessoal e como facilmente se depreende, veicula o que penso unicamente em relação ao corpo de bombeiros que comando e não a qualquer outro.
Na sua opinião, qual é o ponto fraco e o ponto mais forte da corporação dos bombeiros da Mealhada?
Não sei se há pontos fracos ou fortes pois nunca me preocupei com isso. Como em tudo na vida há coisas que correm bem e outras que correm menos bem. Quando há alguma situação que não corra bem é analisada no interior do corpo activo e no local certo que é no quartel. Uma coisa é a nossa preocupação permanente que é tudo tentarmos fazer para conseguir estar à altura do que a população espera de nós no que respeita ao socorro e auxílio sempre que formos solicitados.
Autor: JM
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