segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Bombeiros 'financiam' Estado na despesa de fogos

Um dia de combate pode significar milhares de euros, adiantados pelas corporações.

Um único dia de combate às chamas pode significar milhares de euros em combustíveis e refeições que os bombeiros pagam primeiro para serem reembolsados depois, o que os leva a alertar que estão a financiar o Estado.

O secretário de Estado da Protecção Civil anunciou que o dispositivo deste ano custa 103 milhões. Números que não englobam "combustíveis, refeições e reparação de material", garante o presidente da Direcção dos Bombeiros da Guarda. Despesas "extraordinárias e que as corporações suportam directamente para serem reembolsadas mais tarde", adianta Álvaro Guerreiro. Quando "o número de fogos aumenta estas despesas crescem".

Foi o caso do concelho de Arouca, em Aveiro, onde na última semana os fogos não deram tréguas. Com "a necessidade de receber reforços, os custos logísticos ficam com a corporação", diz o comandante de Arouca. De "segunda a quinta-feira tivemos 50 homens por dia, que almoçaram e jantaram", revela Felismino Amaral, que salienta que cada refeição "custou 5,5 euros". Só de refeições foram 2200 euros num único fogo a que "acrescem os custos com combustíveis", diz o comandante. Sem precisar valores de combustíveis, o graduado adianta que "os carros dos bombeiros consomem muito porque não é só para circular, mas para ter as bombas em funcionamento".

Despesas que muitas corporações, sobretudo as mais pequenas, "não têm capacidade económica para fazer frente", diz Álvaro Amaro. Há ainda "a reparação dos veículos, pequenas avarias, pneus que rebentam", diz o dirigente que lembra que as corporações de bombeiros "são chamadas a financiar o Estado e muitas das vezes acabam por ser reembolsadas vários meses depois". O responsável lembra que "as associações de bombeiros assumem despesas de milhares de euros sem que o Estado, a quem compete pagar essas despesas, atribua qualquer verba para reduzir o esforço".

São os comandantes distritais que fazem esse levantamento e que o submetem à aprovação da Protecção Civil. Mas, lembra o comandante dos Bombeiros de Poiares e responsável pela Protecção Civil no seio da Associação de Municípios, essas despesas "são pagas tarde e a más horas". Jaime Soares adianta que "em muitos casos as facturas são devolvidas e nunca acabam por ser pagas todas as despesas".

De acordo com o Tribunal de Contas, que auditou os mapas financeiros da Protecção Civil relativos a 2007, naquele ano foram gastos 3,7 milhões de euros€ em combustíveis, "a grande maioria no 3.º trimestre, o pico da actividade que corresponde aos fogos florestais", e 1,5 milhões de euros€€ de despesas relativas às "despesas extraordinárias".

A Protecção Civil não prestou esclarecimentos. Apenas afirmou que a responsabilidade pelo "apoio logístico em alimentação é do corpo de bombeiros local, apoiado pela câmara municipal e que depois é ressarcido".

DN

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