Uma semana após o acidente que matou um elemento dos bombeiros de Cabo Ruivo (Lisboa) e feriu outros cinco, a corporação procura refazer a vida. Mas a dor dos colegas é muita e o comandante fica “com o coração nas mãos” sempre que sai um carro.
O comandante dos Bombeiros Voluntários de Cabo Ruivo, Paulo Mina, ainda se emociona quando vê as roupas dos elementos da corporação que tiveram um desastre de viação na A1, entre Aveiro/Sul e Mealhada, a 1 de Agosto.
“Foi um grande choque, um acordar para a realidade. De repente, percebemos que também somos humanos e que não temos o controlo de nada”, diz o dirigente, que perdeu o seu “braço direito”, o segundo comandante Carlos Santos, de 43 anos, no desastre.
Depois de vários dias com um ambiente de cortar à faca, os bombeiros de Cabo Ruivo começam a retomar a vida normal, mas a dor pela perda do colega e o receio de que haja mais acidentes prometem arrastar-se por muito tempo.
O desastre aconteceu quando os elementos da corporação voltavam do Norte do país, onde tinham estado a combater incêndios, como é normal nesta época do ano. Agora, Paulo Mina tem algumas reticências em autorizar que mais bombeiros da corporação participem, no futuro próximo, em missões fora da sua área de actuação.
“Tudo depende de como o pessoal reagir. Haverá alguma dificuldade e receio neste tipo de movimentação de meios, para já, porque está tudo demasiado recente”, admite o comandante. “Se for necessário, não tenho dúvida de que os nossos bombeiros irão, mas ficarei sempre com o coração nas mãos e a rezar para que as coisas corram bem”, confessa.
O facto de não se tratar de uma corporação grande – cerca de 70 elementos – faz com se sinta ainda mais a perda de Carlos Santos – um homem recordado por todos como discreto, competente e com grande sentido de humor.
Após o acidente, os elementos da corporação têm sido acompanhados regularmente por uma psicóloga cedida pela Câmara Municipal de Lisboa, para os ajudar a superar o trauma. “Há pessoas que exteriorizam mais do que outras, mas todos acabamos por acusar a perda e temos de chorar e fazer o luto. E quanto mais depressa, melhor”, diz Paulo Mina.
Depois de garantir o apoio aos feridos e às famílias atingidas e o acompanhamento psicológico dos bombeiros, Paulo Mina enfrentará uma terceira preocupação: a substituição do veículo do acidente, que ficou num estado irrecuperável. “Vamos tentar junto de todas as entidades, porque não temos dinheiro para comprar um novo e faz-nos muita falta”, diz o comandante.
Os cinco sobreviventes do acidente estão fora de perigo. Dois estão nos Hospitais da Universidade de Coimbra, ainda com prognóstico reservado e ligados ao ventilador, mas já reagem a estímulos. Os outros três, entre os quais uma mulher, estão conscientes e a recuperar bem, no Hospital de São José, em Lisboa. Os bombeiros feridos têm entre 25 e 38 anos.
Entretanto, à sede dos Bombeiros Voluntários de Cabo Ruivo têm chegado centenas de e-mails e cartas vindos dos quatro cantos do país e até do estrangeiro, com as condolências e mensagens de apoio à corporação. “Ficámos impressionados com a vaga de solidariedade”, diz Paulo Mina, “Valha-nos isto, no meio de tanta má notícia.”
JN
Quando lemos estas palavras de um comandante o nosso coração bate apertado pois só quem vive isto da família dos bombeiros é que sabe o que vai cá dentro.
ResponderEliminarA dor não passa, mas há que seguir em frente, mesmo entre lágrimas. Fazer o luto não é fácil e é preciso tempo, algo que às vezes os bombeiros não têm porque não se pode fechar a porta e chorar quem nos deixou.
Apoiem-se uns nos outros. Esqueçam as divergências e dêem apenas o que conseguirem aos outros: atenção! Não somos super heróis! Precisamos de tempo para nos recompor.
Sr. Comandante: estas dores não passam sem deixar marcas, necessitam todos de ser seguidos e se preciso for, há que nunca ter vergonha de pedir ajuda.
Elsa Filipe
BMSeixal