segunda-feira, 16 de agosto de 2010

O medo salta quando o alarme toca

Morte da jovem de 21 anos deixou colegas mais atentos, mas também com receio do que pode acontecer

Cristiana Josefa, de 21 anos, perdeu a vida no combate às chamas em Monte Meda, Gondomar, na passada terça-feira. Seis dias depois, a tragédia continua a ser o assunto do dia no quartel dos Bombeiros Voluntários de Lourosa, corporação à qual pertencia.

A desgraça apanhou todos de surpresa, fez redobrar atenções e os bombeiros falam de um sentimento de "medo generalizado", quando o alarme toca e são chamados a intervir. Familiares e colegas continuam a receber apoio psicológico.

Em mais de 40 anos de história, a corporação de voluntários de Lourosa ainda não tinha vivido o drama de uma morte em serviço. Gabriel Bastos, 29 anos, faz parte do corpo de bombeiros há 14 e a fatalidade que vitimou Josefa demoveu-o da ideia de que essas coisas "só acontecem aos outros. Agora pensamos mais nisso, afinal também nos acontece a nós. Andamos com mais atenção", confessa ao DN.

A morte da jovem bombeira não afectou só a corporação de Lourosa. "As pessoas estão mais fragilizadas e há um medo generalizado, não só na nossa corporação mas também em outras. Já ouvi comentários de bombeiras que ponderam fazer uma pausa na actividade", desabafa Gabriel.

Nuno Matos, 31 anos, é bombeiro em Lourosa há 19 e confessa que esta situação "afectou e deu que pensar a todos". "Veio-nos reavivar que existem mais perigos do que aqueles que normalmente pensamos", admite.

Também as famílias dos colegas de Josefa viveram momentos dramáticos quando tiveram conhecimento da notícia. "Não nos afectou só a nós, afectou também as nossas famílias. Primeiro souberam que tinha morrido um bombeiro de Lourosa e depois que estava outro muito queimado. Pensaram que podia ser qualquer um", realça Gabriel.

O DN falou com a mulher de um dos voluntários que acompanhava Josefa em Monte Meda, quando a jovem foi apanhada desprevenida numa valeta, onde se escondia do fogo. A aflição foi grande quando, na praia, alguém se dirige a si e lhe pergunta quem era o bombeiro de Lourosa que tinha morrido. "Liguei ao meu marido e ele atendeu. Só aí fiquei mais descansada", disse, preferindo não revelar a sua identidade.

Mulher de voluntário, desde os tempos de namoro que foi alertada para a dureza de tal posição. "O meu marido disse- -me que antes de ser meu namorado era bombeiro", conta. Apesar de já se começar a habituar, a preocupação é grande sempre que a sirene toca. "Nós ficamos sempre preocupados, mas eles nem se lembram disso. Na hora da aflição não pensam em nada", acrescenta.

Gabriel Bastos, reforça: "Se nós pensarmos no que nos pode acontecer, não agimos." A prioridade é salvar quem está em perigo. "Somos bombeiros a partir do momento em que chegamos ao limite e avançamos", refere o voluntário.

Ainda de luto, os bombeiros de Lourosa torcem agora por Diamantino Teixeira, de 53 anos. O homem ficou com mais de 70% do corpo queimado no mesmo incêndio que vitimou Josefa, em Gondomar.

DN

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