quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Dados da área ardida nos fogos não batem certo

Contas da Autoridade Florestal Nacional não coincidem com as apuradas pelo sistema europeu de satélite que contabiliza mais hectares. Responsável nacional lembra que relatório é provisório.

Os incêndios voltaram ontem a varrer o País com mais de 350 fogos a ser combatidos pelos bombeiros. Os dados provisórios da Autoridade Florestal Nacional (AFN) sobre a área ardida em Julho, os mais graves desde 2006, não batem certo com os apurados pelo Sistema Europeu de Informação de Fogos Florestais (EFFIS). O sistema europeu mostra uma diferença de 2138 hectares na área queimada - o equivalente a outros tantos campos de futebol.

O relatório provisório, divulgado ontem pela AFN, revela que houve 5308 fogos que queimaram 15 890 hectares em Julho. Já o EFFIS, que ontem divulgou os dados dos incêndios com mais de 20 hectares, contabiliza em apenas 56 incêndios 13 756 hectares.

Mas há outras discrepâncias: vários fogos detectados pelo sistema europeu não constam nos relatórios nacionais. Segundo os dados do EFFIS, que monitoriza os incêndios na Europa através de um sistema de satélite, houve 24 fogos com área ardida superior a 100 hectares, em Julho. No entanto, o relatório provisório da AFN, só contabiliza 20. Neste tipo de fogo o EFFIS contabiliza 12 549 hectares, enquanto a AFN 10 405.

Em Viseu houve quatro grandes incêndios com mais de 100 hectares: Pinheiro, Arcozelo e Vila Chã de Sá, mas nos registos da AFN apenas é considerado o de Carregal do Sal. No mesmo distrito, e tendo em conta a EFFIS, a diferença é de 629 hectares. Também o fogo de Luzim, no Tâmega, não aparece nos dados nacionais.

As restantes diferenças são nas áreas de Sobradelo, Braga, onde a AFN contabilizou 732 hectares ardidos e o EFFIS 836. Uma contabilização que pode estar relacionada com a metodologia: enquanto em Portugal o levantamento da área é feito de forma manual, com carta militar, o sistema europeu, que nalguns fogos serviu a AFN, faz o rastreamento por satélite.

Amândio Torres, presidente da AFN, não estranha a discrepância nalguns valores. "Há sempre esta diferença porque o nosso relatório é provisório e pode haver incêndios que ocorreram em Julho e ainda não estão reflectidos neste relatório", disse ontem ao DN, à saída de uma reunião na Autoridade Nacional de Protecção Civil.

O relatório da AFN mostra que entre 1 de Janeiro e 31 de Julho o maior número de ocorrências se registou no distrito do Porto, com 2372. Nas áreas ardidas, o distrito de Aveiro é o mais negro, com 4131 hectares destruídos, seguido de Viana do Castelo com 3132 hectares. Estes dois distritos com Braga perfazem metade da área ardida até à data. Julho foi o mês com maior número de reacendimentos: 148. Mesmo tendo em conta os números da AFN, os 15 890 hectares de área ardida correspondem ao pior Julho desde 2006.

Ontem voltou a ser um dia mau no combate ao fogo. Até às 22.00, a Protecção Civil registava 358 ocorrências. A subida das temperaturas obrigou a Protecção Civil a accionar o alerta amarelo.

Ao início da noite havia 23 incêndios activos. O mais grave era em Ferreira do Zêzere, em Casal da Mata, e mobilizava 201 homens e 47 veículos. Em Alcanena o fogo obrigou ao corte da A1, que ficou intransitável nos dois sentidos.

DN

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