quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Última quinzena de Julho foi a mais negra em área ardida

Este ano, Portugal teve o Julho mais quente dos últimos 79 anos. O fenómeno reflectiu-se no aumento do número de fogos e na área ardida

Só na última quinzena de Julho, os incêndios consumiram 15.129 hectares, uma área três vezes maior do que a que ardeu de Janeiro até 15 de Julho. O mais recente relatório da Autoridade Florestal Nacional (AFN) indica também que em 15 dias houve 3623 ocorrências. Estas representam, só por si, 41 por cento do total registado nos primeiros sete meses do ano. O aumento, admite a ANF, deve-se às altas temperaturas dos últimos dias, que se vão manter pelo menos até à próxima segunda-feira. Até lá, o país vai estar em alerta amarelo, o segundo grau numa escala de quatro.

Se, até 15 de Julho, a área ardida era 80 por cento menor do que em igual período de 2009, os números ontem divulgados (de Janeiro a 31 de Julho) apontam para uma diminuição de apenas 18 por cento. A situação "é preocupante", sobretudo se as condições meteorológicas dos últimos dias se prolongarem em Agosto, diz Duarte Caldeira, presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses. "Corremos o risco de ultrapassar a área ardida em 2009", alerta.

Em relação ao número de ocorrências, a AFN sublinha que, analisando o período entre 2000 e 2010, nos primeiros sete meses deste ano houve menos fogos do que nos anos anteriores, à excepção de 2007 e 2008. Ainda assim, nas últimas semanas de Julho houve dias em que se ultrapassou os 400 incêndios, números só registados em 2005 e 2006, anos que bateram recordes a este nível.

Ainda por cima, segundo o Instituto de Meteorologia, este mês de Julho foi o mais quente desde 1931. De 25 a 29 de Julho, por exemplo, as temperaturas rondaram os 42 graus, ainda longe dos 47,4 graus registados em 2003. Por outro lado, os valores de precipitação foram os mais baixos dos últimos 24 anos. "O que acontecer este mês [Agosto] vai marcar toda a época de incêndios", diz Duarte Caldeira.

Mas as altas temperaturas não explicam tudo. "Ainda não tivemos condições para ocorrências naturais, como trovoadas secas", mais habituais em Agosto, lembra António Salgueiro, coordenador do Grupo de Análise e Uso de Fogo, que tem ajudado no combate aos incêndios. Salgueiro garante que o problema está sobretudo nos comportamentos negligentes, já para não falar nos actos criminosos. O secretário de Estado da Protecção Civil, Vasco Franco, admitiu ontem que a "grande dificuldade" das polícias é a recolha de provas que sustentem uma acusação contra os incendiários, apesar de este ano alguns já terem sido condenados em tribunal.

Duas povoações ameaçadas em Ferreira do Zêzere

O incêndio que deflagrou ontem, por volta das 14h, em Ferreira do Zêzere, no distrito de Santarém, foi o que mobilizou mais bombeiros e veículos operacionais. À hora de fecho desta edição, estavam no local 182 efectivos e 47 veículos, ajudados durante a tarde por três helicópteros e dois aviões. Ao início da noite, o comandante distrital de Operações de Socorro de Santarém, Joaquim Chambel, anunciou o reforço de mais 60 operacionais de Lisboa.

As chamas, que ao início da noite lavravam em duas frentes, isolaram as povoações de Barradas e Rio Fundeiro, queimaram duas viaturas e provocaram a morte de quase 150 cabras que estavam num barracão. Uma habitante de Barradas teve de receber assistência devido à inalação de fumos. Citado pela Lusa, Chambel sublinhou o facto de o incêndio - que lavra numa zona com declives acentuados, tendo evoluído por "saltos" - ter sido atacado logo na primeira hora por mais de 100 homens.

Público

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