domingo, 21 de novembro de 2010

Homenagem simbólica mas cheia de significado a sapador de Lousada, morto em serviço

Manuel Vicente Correia combatia as chamas num edifício da baixa portuense

Segunda-feira, o quartel dos Bombeiros Sapadores do Porto encheu-se de gente para uma última homenagem ao chefe Manuel Vicente Correia, que na madrugada de domingo morreu enquanto combatia um incêndio na Rua dos Caldeireiros, na baixa portuense.

Manuel Vicente Correia, de 51 anos, vivia em Boim, Lousada, era casado e deixa três filhos (uma rapariga - com casamento marcado - e dois rapazes, um deles de 11 anos). Era bombeiro nos Sapadores do Porto há 28 anos.

O bombeiro morreu no combate às chamas num edifício devoluto e ocupado clandestinamente na Baixa do Porto, na consequência da queda de uma parte da fachada.

A carrinha funerária com os seus restos mortais entrou no quartel com todos os elementos em parada que lhe prestaram continência. Foi ainda colocada uma coroa de flores, momento no qual participou o presidente da Câmara do Porto, Rui Rio, acto de última homenagem ao chefe Correia, antes do funeral que se realizou em Boim, Lousada, e constituiu também uma grande manifestação de pesar. O segundo comandante dos Bombeiros Sapadores do Porto, Pais Rodrigues, explicou que esta é "uma cerimónia simbólica mas cheia de significado", à qual muitas corporações de bombeiros vizinhas se associaram, para além de dezenas de bombeiros sapadores, quer no ativo quer aposentados.

Em declarações aos jornalistas, Rui Rio disse que esta é uma "homenagem ao bombeiro que morreu em serviço e quando isso acontece, mesmo que seja numa profissão de risco, "choca" toda a gente.

"O que compete à Câmara fazer - com a devida calma, não é hoje - é averiguar exatamente tudo aquilo que se passou para ver se tudo decorreu na normalidade ou há algum aspeto que tenha falhado e que nós tenhamos que corrigir ou responsabilizar alguém por isso", avançou o presidente da autarquia.

As causas da origem do incêndio são ainda desconhecidas, estando as autoridades policiais a realizar o inquérito necessário para apurar as mesmas.

O segundo comandante dos Sapadores do Porto explicou aos jornalistas que o incêndio deflagrou no último piso de um edifício que estava identificado, mas ocupado indevidamente e cujo proprietário estava informado da situação.

"O chefe da operação no local estava a fazer, com mais dois homens, uma montagem de serviço para combater o incêndio de um edifício contíguo", relatou, acrescentando que "houve o descolamento da fachada onde estava a decorrer o incêndio e essa fachada veio a cair em cima dos homens, tendo vitimado o chefe de serviço".

Pais Rodrigues disse ainda que os chefes de serviço dos Sapadores do Porto "têm muita experiência acumulada" e o local onde a vítima mortal se encontrava "era seguro porque era fora do incêndio, afastado ainda alguns metros do edifício".

Dor e consternação em Boim

Tinha 23 anos quando ingressou nos Sapadores Bombeiros do Porto. Volvidos 28 anos, era chefe de serviço. Casado com Emília Pinto e pai de três filhos de 22, 19 e 11 anos, a família foi avisada por uma psicóloga e colegas que se deslocaram a Lousada, onde vivia, para informar do óbito. "Foi-nos roubado", diz cunhada, Isabel Ferreira.

Manuel Vicente Correia era natural e residente em Lousada e há cerca de dois anos foi promovido a chefe dos Sapadores do Porto, posição que o afastava mais das ruas. "Mas quis o destino que no domingo, por falta de efectivos, fosse ajudar a combater o incêndio que acabou por lhe tirar a vida", desabafou Isabel Ferreira. O Lugar do Cruzeiro, em Boim, Lousada, está mergulhado em tristeza desde a chegada da notícia da sua morte.

Segundo a cunhada, o chefe Correia, como era conhecido, "era um homem muito calmo, pacífico, muito querido aqui no lugar e que amava a profissão que tinha, vivia-a muito e estava sempre com vontade de trabalhar". Mas esta paixão fazia com que a família "andasse sempre com o coração nas mãos, em sobressalto", apesar de ele nunca "ter tido nenhum receio e de ser muito cuidadoso". Nunca tinha sofrido nenhum acidente, "apesar de já ter feito trabalhos mais perigosos do que este".

No batalhão, a voz embarga-se quando são pedidas algumas palavras sobre este "homem da casa", um profissional tão "cauteloso". "Um porreiro, responsável, cumpridor, bem-disposto, acarinhado pela corporação, muito respeitado", afirma o 2.º comandante, Pais Rodrigues. Manuel Monteiro, que tem a mesma graduação de Correia e com ele entrou na corporação a 27 de Setembro de 1982, não consegue destacar um momento especial da carreira do colega, "tantas e tão diversificadas são as ocorrências". Mas ressalva o facto de sempre ter sido "um camarada para o seu amigo, sem grandes conflitos e que tentava gerir o pessoal sempre da melhor maneira".

Terras do Vale do Sousa

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